"Eu sempre amei crianças e enquanto jurada do X Factor sempre tentei ser uma mentora realmente entusiástica e dar o meu apoio. Sinto que é muito importante encorajar os jovens a ser o melhor que podem ser independentemente da sua história, por isso aproveitei a oportunidade de viajar para a Guiana com a Unicef.
A Guiana é um país fascinante, situado na América do Sul mas oficialmente parte das Caraíbas, com quase 90% da população a viver na costa norte. Isso significa que as suas cidades, hospitais e escolas estão amontoadas e as crianças nem sempre têm o espaço necessário para brincar livremente.
Depois de chegar ao país, a nossa primeira paragem foi uma escola numa antiga cidade mineira chamada Linden. Desde que o trabalho mineiro terminou, não há muito para as pessoas fazerem e os trabalhos são escassos. A maioria das pessoas ganha dinheiro gerindo pequenas lojas de venda de roupa ou alimentos, ou viajando para sul para as minas de ouro onde trabalham como mineiros ou como cozinheiros nos campos de trabalho.
A escola, chamada Linden Centre for Disabled Children, era incrível. Foi concebida para ensinar crianças a viver com as suas incapacidades/deficiências. Fui a uma sala com crianças surdas, que comunicavam através de língua gestual. Inicialmente observei de forma discreta mas elas rapidamente me acolheram e começaram a ensinar-me os gestos. Eles ensinaram-me os gestos para dizer o meu próprio nome e algumas palavras bonitas, como borboleta. O seu entusiasmo era contagiante e foi incrível a facilidade com que conseguimos interagir e comunicar. O professor não era surdo, mas estava claramente muito empenhado no seu trabalho.
Uma menina de 10 anos, Ulancy Emmanuel, era fantástica. Embora não conseguisse falar, ela encontrou outras formas de comunicar e era uma das pessoas mais sonoras da sala. Trabalhámos em alguns movimentos de dança e fizemos algumas poses para a câmara.
Eu estou habituada em estar frente às câmaras mas isto foi muito diferente do meu trabalho habitual. Eu digo sempre que crianças como estas têm "diffabilities" (capacidades diferentes) e não “disabilities” (incapacidades), porque todas as crianças têm capacidades diferentes. Sei que não é um termo comum, mas ilustra como cada criança é única e especial e tem o mesmo direito de aprender e brincar que os outros.
Dois meninos gémeos de 10 anos, Kabzuel e Kemuel Giddings, provaram que eu tenho razão ao agarrarem as minhas mãos, desesperados por me mostrar a sua área de brincadeiras. Fiquei chocada com o quão pequena e árida era. Para eles, aquele pequeno pátio é um espaço para brincar, mas para alguém dos Estados Unidos ou do Reino Unido seria insignificante. Tinha um cesto de basketball partido num canto, e o chão era de cimento.
De acordo com a directora, Simone King, as crianças às vezes perdem o equilíbrio e caem e como o chão é tão duro ficam esfoladas ou têm que parar de brincar para não se magoarem. Felizmente a Unicef apoiou a construção de um parque relvado adaptado a crianças com incapacidades na capital vizinha Georgetown. Eu estava desesperada por lhes contar, mas era uma surpresa por isso tive que manter o silêncio sobre a aventura que tínhamos preparada para o dia seguinte.
As crianças são todas indivíduos incríveis mas fiquei especialmente comovida com uma menina chamada Nasia James, que tem síndrome de Dawn. A minha tia também tem por isso a história da Nasia tocou-me de uma forma especial. Não podia deixar de lhe dar um grande abraço. Ela tem 16 anos e o seu avô cuida de si enquanto os seus pais estão a trabalhar fora. Ele está determinado a que ela termine a escola para que seja capaz de encontrar um trabalho e não fique apenas sentada em casa. Ele foi buscá-la às 15h30 o que me pareceu muito cedo. Mas a directora explicou-me que em Linden, tal como em muitas outras cidades da Guiana, as crianças com incapacidades devem sair da escola cedo para evitarem sofrer bulling por parte dos jovens de outras escolas.
É tão triste pensar que as crianças intimidam outras simplesmente porque são novas demais para perceber que algumas pessoas no Mundo são diferentes delas. Mas garantiram-me que isso não afasta as famílias de crianças com incapacidades, que podem vir para aprender e brincar com os seus amigos todos os dias.
Quando os alunos terminaram as aulas do dia, os professores acompanharam-nos a um coreto na proximidade onde o coro regional estava a ensaiar para a sua próxima competição. As crianças em Linden não têm muito, mas têm os melhores cantores do país, que ganham frequentemente competições nacionais. Eu parei para ouvir músicas caplypso guianenses como Under The Mango Tree. Adorei a letra sobre o encontro com o seu amor e as crianças tinham vozes incríveis. Uma delas sugeriu tentaram algo moderno e então acabaram por cantar Stickwitu, do meu ex-grupo Pussycat Dolls. Fiquei lisonjeada por o pianista e o guitarrista saberem os acordes e não pude deixar de me juntar a eles. Então, num momento incrível, estávamos a cantar a parte “Nobody gonna love me better, I must stick with you for ever” e uma das meninas deve ter percebido que eu estava no grupo porque ficou realmente histérica.
No dia seguinte, levámos as crianças da escola para Georgetown para brincarem no parque adaptado a crianças com incapacidades. Estava cheio de escorregas coloridos e pequenos animais onde as crianças podiam sentar-se. Os baloiços tinham correias para que pudessem brincar sem cair. Havia até um pónei para as crianças cavalgarem.
A directora explicou que o pónei e as estruturas para trepar são particularmente boas para as crianças com incapacidades pois ensina-as a confiar, a ser corajosas, a correr riscos. Isto é importante quando se vive numa sociedade onde a sua deficiência pode ser ridicularizada.
Muitas crianças são deficientes visuais como Roel Sumnar, de nove anos. Ele frequenta a unidade Wismar Primary, outra escola nas redondezas. Os professores de lá foram treinados pela Unicef para dar às crianças aulas extra e apoio. Isto significa que as crianças cegas podem frequentar as aulas normais com as outras crianças sem deficiências. Este é um passo muito positivo no sentido de erradicar a ignorância e integrar as crianças com incapacidades na vida diária.
O Roel e alguns dos seus amigos ainda conseguem percepcionar algumas cores, por isso arranjámos faixas brilhantes coloridas e enrola-mo-las nas árvores. Eu adoro desporto por isso não resisti a jogar ao limbo e saltar à corda. As crianças adoraram e ajudavam-se umas às outras a levantar caso caíssem.
Ver a forma como a Unicef incentiva os jovem a fazer desporto, independentemente das suas capacidades, foi realmente inspirador. É por isso que a sua parceria com Glasgow 2014, organizadores dos Jogos da Commonwealth deste verão, pretende garantir que as crianças dos países mais pobres e as mais excluídas vêm em primeiro lugar. A parceria irá ajudar a que as crianças deixam de sofrer com a pobreza, doença e exploração, através do fornecimento de alimentos e medicamento e dando às crianças a oportunidade de praticar desporto, algumas pela primeira vez."
Nicole participará na abertura Glasgow 2014, transmitida pela BBC1 no dia 23 de Julho às 21h.